Blog do Silveira

Dogville

Embora eu tenho gostado mais de Dançando no Escuro do que Dogville, o post sobre o primeiro filme foi um prelúdio para este.

Dogville. (Dogville, 2003) A primeira coisa que você deve notar estranho com este filme é o cenário do filme são só marcações no chão, com alguns objetos que caracterizam os ambientes. Muito semelhante a estruturas encontradas em teatros. Coisa de Dogma 95 (há aí também uma influência de Brecht). O som também compõe o cenário, mesmo quando o personagem abre uma porta que não existe, há o ranger da porta. Isso ajuda na imerção. É interessante como depois de um tempo, o fato de não haver um cenário convencional deixa de ter importância e nos deixa mais centrados nos personagens.
Não é possível para mim continuar a escrever sobre este filme sem fazer revelações sobre o enredo (spoiler).

Tenho minha interpretação sobre este fime. Quando assisti este filme eu assisti até o capítulo 8 e estava me sentindo mal com o filme. Depois que minha namorada me jurou de morte caso eu a fizesse assistir algum outro filme do Lars von Trier eu fui dormir sem assistir ao último capítulo do filme. Até aí nós concordávamos que este era um filme indigesto que mostra um ser humano despído de bons valores e que é capaz de tudo.

No dia seguinte enquanto minha namorada se arrumava para irmos para o Ceará Music eu aproveitei para assistir o capítulo 9. Para mim tudo fez sentido e que o eu havia achado um filme ruim se tornou um filme até muito interessante.

Embora eu seja atéu, eu vi o filme de uma perspectiva mitológica cristã. O gangster chefe é Deus, respeitado por todos e detentor de um poder supremo. Mais precisamente um Deus vingativo, do antigo testamento. Grace é Jesus, o filho de Deus e quer salvar a humanidade por e para isso é capaz de perdoar todos os seus defeitos (embora no final ela os condene).

Uma outra interpretação para este filme, que eu li e gostei, é que o diretor tenta mostrar sim um ser humano amoral e ruim por natureza, cada personagem com sua fraqueza. Tom, por exemplo, com sua incapacidade de fazer algo. A própria Grace no final se mostra mais cruel que seu pai. Mas a platéia também é um desses personagens. A platéia é instigada a odiar aqueles moradores e sente um alívio sádico quando Grace ordena que todos da cidade sejam mortos.
Dogville seria uma vila de cães, agindo somente em interesse próprio e por instinto.

O filme sem dúvida é uma crítica aos Estados Unidos, em especial aos habitantes.

Recomendo o filme, mas advirto que é um filme muito pessado, ainda mais que o Dançando no Escuro.

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Dançando no Escuro

Dançando no Escuro, (Dancer in the Dark, 2000) foi o primeiro filme do Lars von Trier que eu assisti. É um músical, e só por isso já é meio caminho andado para eu gostar do filme. A mistura entre a dança e a música ficou belíssima, me marcou muito. As músicas não são comuns, foram compostas especialmente para o filme (album Selmasongs da Björk, recomendo) e se integram com os elementos do filme de maneira muito interessante.

É um filme belíssimo e, como todo filme do Lars Von Trier que eu já vi, muito difícil de se assitir devido ao nível que ele rebaixa o ser humano, expondo o que há de melhor e principalmente o que há de pior. É também uma crítica à pena de morte.

O personagem principal é representado pela Björk. O forte da Björk não é interpretar. Mas não digo isso de maneira pejorativa. Interpretar é mostrar sentir algo que você não sente. Eu , que não sou ator, acredito que entrar e sair de um personagem, mantendo sua integridade psicológica ilesa exige muito esforço e talento. Eu tenho profunda admiração pelos atores. No filme Björk está sentindo tudo e acho que por isso foi tão difícil para ela.

Quando um artista resolve fazer uma representação artística de um sentimento, de uma sensação ou do mundo ele é livre para escolher o formato. Por exemplo, As Quadro Estações do Vivaldi são representações orquestradas para as estações do ano, e são muito interessantes quando análisadas desta maneira. O músical não tenta mostrar um mundo como ele é, caso contrário as pessoas não sairiam pulando e dançando enquanto fazem suas tarefas cotidianas. O músical é uma representação do mundo usando a dança, música e no caso ainda o cinema. Resumidamente, é desta forma que eu acho eu vejo um músical.

O estilo de câmera seguem em muitos momentos ao movimento Dogma 95, usando mais de 100 câmeras digitais para o produção do filme.

Apesar de ser um filme com momentos muito fortes e densos, o que faz com que muitas pessoas não gostem dele, eu o recomendo fortemente.

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